Uma pergunta muito comum feita por quem se interessa pela independência financeira é: “Quanto de dinheiro é necessário acumular para alcançar a esse objetivo?”. O grande problema é que a resposta a essa pergunta depende de inúmeras variáveis. Entre elas estão o custo de vida pessoal, rendimento esperado dos investimentos, idade em que essa pessoa pretende parar de trabalhar (e aqui digo, parar de fazer aportes e passar a somente utilizar os recursos acumulados), expectativa de vida, etc. Com a necessidade de simplificar a questão, chegou-se à Regra dos 4% da Independência Financeira.
A regra é clara: Você deve ter um total de investimentos tal que, 4% desses investimentos sejam suficientes para cobrir seus gastos anuais.Ou seja, para cada 4 reais gastos em um ano, deve haver 100 reais em investimentos.
Outra forma de fazer a conta é partindo dos seus gastos anuais. Nesse caso, basta multiplicar seus custos anuais por 25. Assim, para cada real gasto em um ano, deve-se ter 25 reais em investimentos. Ou, para cada 4 reais gastos, possuir 100 reais investidos.
A praticidade da regra
Eu sou fã dessas simplificações, que nos permitem fazer cálculos mais rápidos ainda que tenham um pouco menos de exatidão. Melhor ainda quando essa a simplicidade nos põe em uma situação mais segura.
Falando em simplificações e tolerância a pequenos erros, Warren Buffett diz preferir “estar ligeiramente correto à precisamente errado”. E com seu mentor, Benjamin Graham, aprendeu a aplicar uma margem de segurança ao avaliar seus investimentos… caso as coisas ocorram diferente do que se imagina.
Mas para aplicar qualquer regra, é preciso entender no que ela se baseia…
Como sou um curioso nato, tento sempre entender o porquê das coisas.
Por que justo 4%? Por que não 3% ou 5%?
Boa parte da literatura sobre independência financeira está em língua inglesa e vem dos Estados Unidos. A maioria desses textos se baseiam em investimentos em ações, e os principais índices de ações no mercado americano são o S&P500 e o Dow Jones.
Se tomarmos por base longas séries históricas desses índices (30 ou 40 anos, por exemplo), os retornos médios ficam na casa de 12% anuais. No entanto, sabemos que em alguns anos, o mercado de baixa pode levar esses indicadores para o campo negativo, enquanto nos anos de pujança nos mercados, os valores podem superar em muito a média.
Como muitos que defendem e divulgam a independência financeira utilizam os rendimentos desses índices, é razoável começar nossa breve análise por aí, nos 12% ao ano.
Mas de 12% para 4%, estamos deixando de lado 8%. Por quê?
Uma parte desse rendimento a gente acaba perdendo para a inflação. Esses 12% de rendimentos são o que chamamos de valor nominal. Para obter o rendimento real, devemos subtrair a inflação do período. Se a inflação histórica estiver na casa dos 3%, o rendimento histórico cai para 9% apenas.
Também devemos ter em conta que quando paramos de contribuir para a formação do investimento e passamos apenas a sacar e administrar os recursos, temos que ser um pouco mais cuidadosos com a volatilidade dos mercados. Por isso é comum ter uma carteira de investimentos com parte do patrimônio investido em títulos de dívida, sejam eles públicos ou privados.
Como esses títulos rendem, historicamente, menos que as ações, a rentabilidade geral da carteira tende a ser menor que os 12% mencionados anteriormente. Esse valor irá variar em relação a composição da sua carteira e das taxas de juros praticados em cada momento da economia.
Outro fator contribuinte para puxar essa regra para apenas 4% é a própria natureza dos mercados. Em anos cujo mercado está bullish (preço das ações em alta), sua carteira tende a crescer e os 4% produzirão mais dinheiro do que você necessita, enquanto no bear market (preço das ações em baixa), eventualmente os 4% não serão suficientes para cobrir os custos daquele ano.
Desse modo, entende-se que a Regra dos 4% tem um quê de conservador, para que você consiga navegar tanto na maré favorável quanto nas tormentas econômicas.
Mas e o Brasil, será que essa regra também serve no nosso mercado?
Essa é uma pergunta bastante válida, visto que essa regra foi formulada, ao que tudo indica, por norte-americanos. E considerando que as economias de países desenvolvidos são bastante distintas das economias dos países em desenvolvimento, nos resta saber se a Regra dos 4% também vale para o nosso Brasil.
Ao analisarmos a série histórica do Ibovespa, vemos que o nosso mercado é bastante correlacionado com o dos gringos. E em alguns momentos com o Ibovespa até superando os índices americanos. Vale notar que estamos falando em moeda local. Caso você faça o teste com o valor da bolsa brasileira em dólares os valores podem ser bastante distintos.
Com relação à inflação, ela está sob controle desde 1994 com a implantação do Plano Real. Ainda assim, esse é um tema que assusta muita gente (e com razão). Afinal, ela corrói o poder de compra do nosso dinheiro. É como se a gente perdesse dinheiro.
Pelo lado positivo, o investimento em ações amortece em parte o efeito da inflação. O mesmo se aplica aos títulos públicos do Tesouro Direto que são indexados de acordo com a inflação. Em um cenário de inflação alta, esses títulos irão corrigir toda a inflação além do pagamento dos juros acordado.
Como conclusão dessa breve análise, creio que sim, a Regra dos 4% da Independência Financeira é válida também para o mercado brasileiro e você pode usá-la como uma ferramenta para estabelecer seus objetivos e para usá-la na hora de aproveitar sua “aposentadoria”.
A Regra dos 4% para a SUA Independência Financeira
Vimos até aqui que a Regra dos 4% te ajuda em dois pontos principais:
- Traçar seu objetivo financeiro para alcançar a Independência Financeira
- Na sua aposentadoria, balizando o quanto você deve tirar para cobrir seus gastos sem dilapidar seus investimentos.
Também vimos que ela se baseia em algumas premissas:
- Carteira composta na maior parte por Renda Variável (ações ou índices de ações), aumentando a rentabilidade dos investimentos
- Uma pequena parte da carteira em Renda Fixa (títulos da dívida, etc), para proteger em parte a volatilidade dos mercados (principalmente quando nos aposentamos)
- Uma pequena margem para a inflação
- Com sorte, ainda sobra um percentual para ser reinvestido (mesmo depois da aposentadoria)
A limitação, como qualquer investimento que fazemos olhando para o futuro, é a incerteza. Nada nos garante que a rentabilidade futura será equivalente à analisada nesse estudo (mas sejamos otimistas!), e a inflação, caso se descontrole, pode corroer seus investimentos mais do que você pode imaginar.
Dose extra de segurança
Em tese, se você utilizar menos que 4% dos seus investimentos, melhor. Caso estique seus gastos para os 5% e além, é capaz de faltar fundos para os anos vindouros.
Ou seja, quanto mais você tem investido, menor é o percentual que você irá necessitar para cobrir suas despesas, a menos que você comece a aumentar seus gastos.
A Regra dos 4%, na minha humilde opinião, deve ser utilizada como uma referência (nesse caso muito boa), jamais como uma limitante.
Infográfico – Regra dos 4% da Independência Financeira
Uma pergunta muito comum feita por quem se interessa pela independência financeira é: “Quanto de dinheiro é necessário acumular para alcançar a esse objetivo?”. O grande problema é que a resposta a essa pergunta depende de inúmeras variáveis. Entre elas estão o custo de vida pessoal, rendimento esperado dos investimentos, idade em que essa pessoa pretende parar de trabalhar (e aqui digo, parar de fazer aportes e passar a somente utilizar os recursos acumulados), expectativa de vida, etc. Com a necessidade de simplificar a questão, chegou-se à Regra dos 4% da Independência Financeira.
A regra é clara: Você deve ter um total de investimentos tal que, 4% desses investimentos sejam suficientes para cobrir seus gastos anuais.Ou seja, para cada 4 reais gastos em um ano, deve haver 100 reais em investimentos.
Outra forma de fazer a conta é partindo dos seus gastos anuais. Nesse caso, basta multiplicar seus custos anuais por 25. Assim, para cada real gasto em um ano, deve-se ter 25 reais em investimentos. Ou, para cada 4 reais gastos, possuir 100 reais investidos.
A praticidade da regra
Eu sou fã dessas simplificações, que nos permitem fazer cálculos mais rápidos ainda que tenham um pouco menos de exatidão. Melhor ainda quando essa a simplicidade nos põe em uma situação mais segura.
Falando em simplificações e tolerância a pequenos erros, Warren Buffett diz preferir “estar ligeiramente correto à precisamente errado”. E com seu mentor, Benjamin Graham, aprendeu a aplicar uma margem de segurança ao avaliar seus investimentos… caso as coisas ocorram diferente do que se imagina.
Mas para aplicar qualquer regra, é preciso entender no que ela se baseia…
Como sou um curioso nato, tento sempre entender o porquê das coisas.
Por que justo 4%? Por que não 3% ou 5%?
Boa parte da literatura sobre independência financeira está em língua inglesa e vem dos Estados Unidos. A maioria desses textos se baseiam em investimentos em ações, e os principais índices de ações no mercado americano são o S&P500 e o Dow Jones.
Se tomarmos por base longas séries históricas desses índices (30 ou 40 anos, por exemplo), os retornos médios ficam na casa de 12% anuais. No entanto, sabemos que em alguns anos, o mercado de baixa pode levar esses indicadores para o campo negativo, enquanto nos anos de pujança nos mercados, os valores podem superar em muito a média.
Como muitos que defendem e divulgam a independência financeira utilizam os rendimentos desses índices, é razoável começar nossa breve análise por aí, nos 12% ao ano.
Mas de 12% para 4%, estamos deixando de lado 8%. Por quê?
Uma parte desse rendimento a gente acaba perdendo para a inflação. Esses 12% de rendimentos são o que chamamos de valor nominal. Para obter o rendimento real, devemos subtrair a inflação do período. Se a inflação histórica estiver na casa dos 3%, o rendimento histórico cai para 9% apenas.
Também devemos ter em conta que quando paramos de contribuir para a formação do investimento e passamos apenas a sacar e administrar os recursos, temos que ser um pouco mais cuidadosos com a volatilidade dos mercados. Por isso é comum ter uma carteira de investimentos com parte do patrimônio investido em títulos de dívida, sejam eles públicos ou privados.
Como esses títulos rendem, historicamente, menos que as ações, a rentabilidade geral da carteira tende a ser menor que os 12% mencionados anteriormente. Esse valor irá variar em relação a composição da sua carteira e das taxas de juros praticados em cada momento da economia.
Outro fator contribuinte para puxar essa regra para apenas 4% é a própria natureza dos mercados. Em anos cujo mercado está bullish (preço das ações em alta), sua carteira tende a crescer e os 4% produzirão mais dinheiro do que você necessita, enquanto no bear market (preço das ações em baixa), eventualmente os 4% não serão suficientes para cobrir os custos daquele ano.
Desse modo, entende-se que a Regra dos 4% tem um quê de conservador, para que você consiga navegar tanto na maré favorável quanto nas tormentas econômicas.
Mas e o Brasil, será que essa regra também serve no nosso mercado?
Essa é uma pergunta bastante válida, visto que essa regra foi formulada, ao que tudo indica, por norte-americanos. E considerando que as economias de países desenvolvidos são bastante distintas das economias dos países em desenvolvimento, nos resta saber se a Regra dos 4% também vale para o nosso Brasil.
Ao analisarmos a série histórica do Ibovespa, vemos que o nosso mercado é bastante correlacionado com o dos gringos. E em alguns momentos com o Ibovespa até superando os índices americanos. Vale notar que estamos falando em moeda local. Caso você faça o teste com o valor da bolsa brasileira em dólares os valores podem ser bastante distintos.
Com relação à inflação, ela está sob controle desde 1994 com a implantação do Plano Real. Ainda assim, esse é um tema que assusta muita gente (e com razão). Afinal, ela corrói o poder de compra do nosso dinheiro. É como se a gente perdesse dinheiro.
Pelo lado positivo, o investimento em ações amortece em parte o efeito da inflação. O mesmo se aplica aos títulos públicos do Tesouro Direto que são indexados de acordo com a inflação. Em um cenário de inflação alta, esses títulos irão corrigir toda a inflação além do pagamento dos juros acordado.
Como conclusão dessa breve análise, creio que sim, a Regra dos 4% da Independência Financeira é válida também para o mercado brasileiro e você pode usá-la como uma ferramenta para estabelecer seus objetivos e para usá-la na hora de aproveitar sua “aposentadoria”.
A Regra dos 4% para a SUA Independência Financeira
Vimos até aqui que a Regra dos 4% te ajuda em dois pontos principais:
- Traçar seu objetivo financeiro para alcançar a Independência Financeira
- Na sua aposentadoria, balizando o quanto você deve tirar para cobrir seus gastos sem dilapidar seus investimentos.
Também vimos que ela se baseia em algumas premissas:
- Carteira composta na maior parte por Renda Variável (ações ou índices de ações), aumentando a rentabilidade dos investimentos
- Uma pequena parte da carteira em Renda Fixa (títulos da dívida, etc), para proteger em parte a volatilidade dos mercados (principalmente quando nos aposentamos)
- Uma pequena margem para a inflação
- Com sorte, ainda sobra um percentual para ser reinvestido (mesmo depois da aposentadoria)
A limitação, como qualquer investimento que fazemos olhando para o futuro, é a incerteza. Nada nos garante que a rentabilidade futura será equivalente à analisada nesse estudo (mas sejamos otimistas!), e a inflação, caso se descontrole, pode corroer seus investimentos mais do que você pode imaginar.
Dose extra de segurança
Em tese, se você utilizar menos que 4% dos seus investimentos, melhor. Caso estique seus gastos para os 5% e além, é capaz de faltar fundos para os anos vindouros.
Ou seja, quanto mais você tem investido, menor é o percentual que você irá necessitar para cobrir suas despesas, a menos que você comece a aumentar seus gastos.
A Regra dos 4%, na minha humilde opinião, deve ser utilizada como uma referência (nesse caso muito boa), jamais como uma limitante.
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Orçamento 70-20-10 – Como Fazer?
O Método de Orçamento 70-20-10 permite que você divida sua renda em 3 grandes blocos e te dá a liberdade de “fazer o que quiser” com o dinheiro dentro de cada bloco, incluindo investimentos e doações.
Como Gerar Renda Extra
Uma das formas de turbinar os seus investimentos é criando uma nova fonte de renda. Aqui mostramos como gerar essa renda extra.
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